Quando ela era criança
Imaginava pela sua dança que seus passos seriam leves e viveria a vida em grandes movimentos
Era tímida. Tinha o apelido de olhos cor do sol. Ouvia isso do seu pai que a deixava vermelha sem ao menos entender o porquê. Ele explicava com suas simples palavras que era só ela abrir os olhos pra vida dele ensolarar...
Era uma criança feita de cores...
A primeira vez que se olhou de verdade no espelho, viu o tom do tecido azul que cobria sua pele branca. O reflexo a conquistou. O azul passou ser sua cor mais querida, Embora os verdes presentes sugerissem a beleza da esperança
Era diferente
Ainda lembra da primeira vez que se olhou com contestação neste mesmo espelho
Já era menina. Inquieta e magra, cabelos loiros escuro e compridos. Achava-se delicada, sem ver beleza
Tinha uma pinta estranha no rosto e suas colegas, que já mostravam formas e curvas, riam
Tudo nela era silencioso, menos as tonalidades, seus passos e seu coração
Suas cores eram diversas, e sonhava com um amor que fosse pra sempre
Não pensava em peitos, coxas e bundas. Não passava maquiagem. Não fazia penteados, não conhecia a história do Pequeno Príncipe, mas desde cedo entendeu que “O essencial era invisível aos olhos”
Ela era o contraste delas...
Cresceu com suas cores e movimentos. Aí não teve jeito, conheceu o amor. Não estava vestida de azul e acreditava que a cor dos seus olhos, sem o dia, não faria efeito, não ia ensolarar...
Não adiantava seu pai explicar. As lágrimas rolavam. Passou ter mais timidez e vergonha, desvencilhando seu olhar
Agüentou por um longo tempo não abrir a porta pra este amor não entrar. Fugia... Sumia...
Ele, nos seus sentidos, chamava alto. Seus pais podiam ouvir e brigar. Ligava o som pra se cobrir, e esquecer, com uma música bem alta que, sem querer, idealizava ser deles, e começava dançar... Dançar... Dançar... E imaginar!
Então ele a acompanhou por um longo tempo sem pensar em dormir pra conquistá-la. Sentia quando estava por perto e sossegada, ficava em paz...
Quando precisava descansar, antes de ir embora, ele deixava uma carta de amor com um sorriso leve, fazendo-a entender que ia voltar, pra ela nunca despertar
Passaram-se vários capítulos
As promessas de amor era a mesma
Nada danificaria
Uma noite rejeitou sua cor...
Um dia seu coração voou...
Decidiu então que não queria mais aquilo. Não mais deixaria chegar perto novamente. Colocaria seu vestido azul, renasceria pra dançar até cansar e curada deste amor acreditava acordar...
Não era mais uma menina. E sim, uma sonhadora profissional, pois continuava sonhar com seus braços e se via como sua dona
Mesmo de tão longe, descobria nela não mais as cores da menina, nem a brandura da sua adolescência, mas as tantas das mulheres guardadas que pode ser
Uma tarde o amor abençoou...
Serenaram com seus olhos abertos. Alma na cara. Coração entregue. Era tão completo,tanto afeto. Ele, sem intenção das outras, só as variáveis dela e teve uma quando, onde e em cada canto quisesse. E ela tinha sua febre, seus olhos, suas mãos, palavras, danças, colo, cabelos acariciados, afagos e uma canção pra acordar a tempo este momento feliz...
...
No domingo, à tardinha, ela abriu os olhos pra ver o fim do dia. Sentiu algo lento e curioso. Não necessitou ir até a porta. Ele já estava dentro dela cantando...
Pegou-a pela voz do coração e disse de modo gentil: -Entrei pela janela, vamos dançar? Vamos entrar na madrugada entre nossos lençóis de tantos anos-sonhos e movimentar?
Sonhos... Vontades... Desejos...
Abastecidos das vozes aceitaram o corpo falar
De alguma forma é preciso saciar, consumar...
Levados ao universo, foram envoltos. Desnudaram suas almas. Se perderam pelo ar, abastecendo o plural em igual quantidade de se amar
-E o vestígio?
-Ah, vá imaginando segundo seus versos! Porém, desfaça seus reprimidos!
Mônica Parreira
Até...